quinta-feira, 20 de dezembro de 2007





O dia em que o Weihnachtsmann apareceu de verdade!



Quem me contou foi o meu amigo Ivo Hadlich, aqui de Blumenau. Eles eram pequenos, cinco criancinhas em torno de uma mãe e de um pai, a esperarem a chegada do Natal e do Weihnachtsmann, todos dentro daquela emoção que toma conta da gente até hoje, quando o Natal está chegando. Pelas contas que fizemos, deve fazer uns 50 anos, tempo em que não havia loja de 1,99 cheinha de enfeites de Natal, nem neve artificial, e quando ainda eram caríssimas as bolas de vidro que tão facilmente se quebravam e deixavam um monte de finos cacos para entrarem na mão das crianças arteiras.
A mãe do Ivo, então, fazia as coisas da maneira antiga: enfeitava o pinheirinho com os doces-de-Natal mesmo, furados com uma agulha e pendurados na árvore, como frutos, para serem colhidos depois. Ele me contou o trabalhão que dava furar com uma agulha, também, duros grãos de milho, os mais coloridos possíveis, para formarem cordões que enfeitassem a árvore, bem como toda a criançada ajudava a fazer cordões de pérolas, com baguinha-de-Nossa-Senhora, para também embelezarem aquele símbolo maior numa casa, na época do Natal. E ainda se faziam pequenos bonecos de palha-de-milho, e eram colocadas velinhas coloridas por todo o pinheirinho, antes que a noite-de-Natal chegasse. Ficava o máximo o pinheirinho na casa do Ivo: não haveria Weihnachtsmann que não viesse até ali trazer presentes, só para ver coisa assim tão bem feita e linda!
E então chegou a noite-de-Natal de verdade, e quando as crianças entraram na sala, viram que o Weihnachtsmann viera mesmo! Sob a árvore enfeitada e agora com todas as velinhas acesas, estavam os pacotes com os presentes, que hoje ele sabe que eram coisas simples: carrinhozinhos de madeira, bonecas de pano, as coisas modestas que as crianças ganhavam então, naqueles tempos de antes do Consumismo.
E então todos se deram as mãos para cantar o Stille Nacht, a Noite Feliz de todo o mundo ocidental cristão, e o Ivo ainda se lembra muito bem como seu coração de menino muito pequeno batia violentamente, de tanta emoção... quando o incidente ocorreu! Nunca se soube como, mas alguma das velinhas coloridas deve ter caído, e o pinheiro todo se incendiou, e de árvore encantada um momento antes, transformou-se numa tocha que rugia e que queimava todos os enfeites e doces, e, de quebra, já foi incendiando as cortinas da janela e os presentes, e deixando todo o mundo apavorado com o que ocorria.
O pai do Ivo fez o que devia fazer, claro: buscou baldes com água, apagou tudo, salvou a casa. Mandadas para fora como garantia, as cinco crianças, abraçadas, choravam. O Weihnachtsmann viera e se fora, e mesmo assim eles tinham ficado sem Natal! Mas havia a mãe, claro, e as mães sempre salvam tudo. Era impraticável continuar o Natal naquela sala cheia de fuligem, água, e sobras da festa, e ela sabia o que ia nos coraçõezinhos dos seus filhos. Então chamou todos para fora, e o Ivo me jura que aquele foi o Natal mais bonito que ele teve na vida!
Havia uma grande noite de estrelas, lá fora – era como se o mundo todo tivesse se preparado para o Natal, era como se o céu tivesse se vestido de muitas velinhas para esperar a passagem do Weihnachtsmann que ainda deveria andar por ali por perto, visitando outras casas. A mãe do Ivo fazia questão das canções natalinas, e então, todos se deram as mãos de novo e começaram a cantá-las para as estrelas, a começar, claro, pelo Stille Nacht, bem de onde haviam parado. Já não tinham doces nem presentes, mas a noite mágica não foram perdida. E o Ivo jura que foi aquela a única vez em que viu o Weihnachtsmann de verdade: de repente, num caminho aberto entre as estrelas, lá ia ele, tocando um trenó puxado por renas, bem aquele trenó da qual certo refrigerante se apoderou, na década de 1930, quando resolveu inventar o Papai Noel. E o Weihnachsmann abanou, e o grande céu de estrelas ficou cheio de música. O Ivo nunca esqueceu, até hoje. Ele chorou, quando me contou.

Blumenau, 05 de Dezembro de 2003.


Urda Alice Klueger
Neste Natal

Não quero paz
Quero uma luta
Que faça a vida
Ter valido a pena
Não quero prosperidade
Se não puder compartilhar
Não quero muito amor
Mas muitas paixões
Não quero ganhar amigos
Quero perder os inimigos
Não quero ganhar o presente
Quero ter o futuro
Não quero receber um abraço
Quero abraçar todo mundo
Não quero ter medo
Quero ser coragem
E ser tudo o que quero
Neste Natal

Isabel Mir

dez/2007

terça-feira, 18 de dezembro de 2007





TODOS OS NATAIS

Por Luiz Carlos Amorim (escritor e editor - Http://br.geocities.com/prosapoesiaecia )


Em um novo dezembro, impossível evitar a lembrança de Natais passados, antigos, felizes, da infância da gente, abençoada infância.
Meus melhores Natais aconteceram quando eu ainda era criança. E depois, quando minhas filhas eram pequenas. Apesar de saber o significado da data, tão importante, acho que para mim, até por causa disso mesmo, crianças fazem falta na mágica noite. Porque elas representam a presença de um menino nascido nessa época e de quem comemoramos o aniversário.
Então espero os netos que, com certeza, reavivarão a chama daqueles Natais saudosos e autênticos. Enquanto isso, passamos a noite de véspera com amigos e parentes que tenham “guris pequenos”, ou os convidamos para passá-la com a gente. Como não ter a presença de uma criança numa noite dessas para mostrar-lhe o presépio e contar a sua história, ver o brilho dos seus olhos refletirem nas bolinhas da árvore natalina, ensinar-lhe a cantar as canções tão nossas conhecidas, vê-la ter medo do Papai Noel de mentirinha e abrir presentes com aquela ansiedade estancada de há tanto tempo?
Saudade de meus Natais de quando eu era criança. Também tinha medo do Velhinho, mas adorava os brinquedos e chocolates que ele trazia. Sabia que naquela noite nascera um Menino eterno, porque minha “Vó Pequeninha” me contara a sua história. Infelizmente, nunca foi montado um presépio em nossa casa, naqueles Natais antigos. Nem montei um, também, para minhas filhas.
Mas mesmo assim, aquelas noites eram mágicas. O encantamento começava muito antes, meses antes, quando o tempo custava a passar, até que chegasse o dia de enfeitar o pinheiro. Aí, sabíamos, a noite estava próxima, muito próxima.
E então era uma azáfama só. Todos ajudavam a preparar a casa, por dentro e por fora – as paredes, o jardim, o quintal, os gramados – sim, porque não morávamos em apartamentos, como hoje, mas em casas -, alguns “ajudavam” no que era possível (e no que não era) na feitura de doces e bolachas natalinas. Era época também de se estrear roupa nova, e lá íamos nós tirar medidas ou experimentar peças simples, de tecidos simples, mas que eram o quanto bastava.
E na véspera da noite especial, que finalmente chegava, todos estavam prontos. Era só esperar as visitas que vinham partilhar a ceia de Natal, simples mas farta, que a mãe preparava com tanta dedicação e carinho, a chegada do Velhinho com os presentes e então todos cantávamos aquelas canções tradicionais e lindas para saudar o nascimento daquele Menino.
Foram Natais felizes. Depois, bem mais tarde, no segundo ou terceiro Natal de minhas filhotas, fiquei triste porque havia “encomendado” um Papai Noel para vir visitá-las e a outras crianças que nos faziam companhia, e ele não apareceu. Ficara bêbado nas primeiras visitas e esquecera a nossa. Fiquei indignado com o homem, pobre mortal que não cumprira o combinado e deixara minhas filhas esperando. Mas não poderia deixá-lo tirar o encanto daquela noite única, e falamos do aniversariante, cantamos as canções que falavam dele e a magia foi restabelecida.
Num outro Natal, pude me sentir quase um Papai Noel. Comprei, aos poucos, bem antes que aquele Natal chegasse, balas, chocolates e pequenos brinquedos, fiz vários pacotes e fui, num sábado antes da tão esperada noite, visitar uma comunidade muito carente. Naquele lugar, de gente muito, muito pobre, sabíamos que as crianças não ganhariam nada de ninguém. Foi uma festa o que aconteceu ao redor do meu fusca, naquele dia.
E dentre tantos Natais felizes, um foi muito triste, para mim e para minha esposa: perdemos nossa primeira filha no final de um outubro, numa primavera linda, quando as primeiras flores de jacatirão começavam a desabrochar. E quando dezembro chegou, a ferida ainda doía muito e nunca uma criança – a nossa criança - fez tanta falta num Natal. Mas entendíamos que não perdemos nossa filha, apenas a deixamos ir ficar ao lado do pai do Menino que nascia mais uma vez. Em todos os outros Natais, por todos esses anos, aquela dor dói um pouquinho mais do que de costume, uma saudade antiga, um sentimento que parece ficar maior, então.
Mas as grandes perdas ensinam a gente a dar valor ao que se tem. Novos Natais felizes voltaram, assim como as crianças, que sempre voltam. Assim como o menino que sempre nasce de novo. Sempre.

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(MarcoStruve - Natal 2007 da APAE de Indaial)




Sim, sou presepista!
Por elaine tavares - jornalista

Tenho gravada nas retinas e no coração as imagens dos natais da minha infância. No início do mês de dezembro minha mãe começava a preparar a construção do presépio. Era uma tradição. Nós, os três filhos, participávamos organizando os personagens da famosa noite em que nasceu Jesus. A família, os bichinhos, os pastores, os reis magos, a estrela. A coisa levava o mês todo. Havia a árvore de natal, mas ela era absolutamente secundária. Porque minha mãe reverenciava o menino e não o Papai Noel. Naqueles dias, no interior do Rio Grande, o capitalismo selvagem ainda não tinha chegado com toda a sua força. Depois, eu cresci, e segui a velha tradição. Todo o natal, monto o presépio com todos os seus personagens. Passo o mês inteiro esperando pelo dia do aniversário daquele que tenho como uma das figuras que mais amo no mundo.

Sempre há os que dizem que ele não existiu, que é uma invenção de Paulo. A mim não importa. Tudo que sei é que as histórias que dele se contam, das coisas que ensinou, amparam minha prática de vida. Jesuânica. Por isso o natal é tão importante pra mim. Não que eu precise de um dia específico para lembrá-lo ou falar dele. Mas é um aniversário e é bom celebrar.

Por isso me agride a imagem gigante do Papai Noel que foi montada na entrada da cidade onde moro, Florianópolis, num chamado ao consumo. E me choca ver que as pessoas acham lindo e sequer questionam toda a carga de ideologia que aquele símbolo sustenta. Aqui, na ilha da fantasia, o natal é sinônimo de compras. A própria figura do Papai Noel perdeu seu sentido original, do bom velhinho que vinha visitar as crianças na noite do grande advento. Agora, natal significa consumo, louco, desenfreado. Nas telas da TV tudo o que se fala é da porcentagem do aumento das vendas e nas ruas já começa o frenesi dos pacotes.

Eu não dou presentes no natal. Busco o refúgio interior e o encontro com a idéia de Jesus, o cara do aniversário. Conspiro com as demais culturas originárias do hemisfério sul que celebram o solstício de verão. Faço minhas cerimônias, minhas rezas e celebrações. No dia do solstício, que é o 21, o sol parece ficar estacionado no céu. O dia é longo e a gente faz reverências àquele que nos dá calor e propicia a vida.

Então, natal é isso: festejar a vida. Celebrar com os que amamos a idéia de que o mundo precisa ser justo, que as riquezas devem ser repartidas, que as pessoas devem ser solidárias e amorosas. É dia de comungar com os ancestrais, com a natureza, com a vida que vive. Dia de agradecer por poder estar neste lindo jardim. Se há algo a presentear, que seja essa idéia, de que o natal não é um dia para comprar presentes impessoais, impostos pelo mercado capitalista. O natal é dia de armarmos nosso presépio interior, com todos os personagens do nosso grande advento.

Feliz Natal... Feliz Solstício... !!!




NATAL RENOVADO


Por Luiz Carlos Amorim (escritor – http://br.geocities.com/prosapoesiaecia )


O Natal está chegando e eu recebo, no último dia de novembro, assim tão cedo, o meu presente de Natal. Trata-se da quarta edição, ampliada, do livro "Crônicas de Natal e histórias da minha avó", da minha amiga Urda Alice Klueger. É claro que eu já tinha um exemplar da primeira edição, mas o livro está renovado, com capa nova, novas crônicas, quatro delas, e eu não podia deixar de lê-las de imediato. Então, acabo de ler "A Galinha de Vidro", "O dia em que o Weichnachtsmann apareceu de verdade", "Natal em Abril" e "Natal no Cinema".


Urda sabe como ninguém contar histórias e sendo de Natal, então, nem se fala. "A Galinha de Vidro" eu já conhecia, fala de perdas e de ausências que doem mais no Natal e eu sei bem como é;


"O dia..." é uma história mágica de um Natal que poderia ter sido destruído, mas transformou-se no mais bonito, quase como um que eu conheço; "Natal em Abril" é a história de um Papai Noel que veio fora de época para mostrar a um menino que a magia do Natal existe. Idenfiquei-me com essa história do rapaz que comprou a bicicleta tão sonhada com o primeiro salário (e Papai Noel veio para entregá-la), pois Urda pergunta, entre parêntesis, se o leitor lembra da loja "Hermes Macedo".


Eu lembro, Urda. Foi lá que eu conheci minha esposa, a mãe de minhas filhas. Um dia escrevo uma crônica. E "Natal no Cinema" é a crônica sobre um certo Papai Noel de Urda, que transformou um conto das primeiras edições deste mesmo livro em filme.E quando leio a crônica sobre o filme "Por causa de Papai Noel", lembro que a minha crônica do Natal do ano passado era exatamente sobre isso: meu presente de 2006 foi poder assistir ao filme, uma obra que consegue retratar com fidelidade o talento de escritora de Urda, o talento da diretora em transportar para a tela a excelência literária da escritora e, além de tudo, mostra um pouco da infância da própria autora do texto.


E lembro, por associação, do CD com músicas de Natal que dei pra Urda naquele final de 2006, bem no dia em que assistimos junto "Por Causa de Papai Noel". O CD, na verdade, é uma seleção que fiz de vinte músicas de Natal brasileiras, portuguesas, cantadas, orquestradas, há até duas músicas interpretadas por um coral de crianças de escola do qual fazia parte minha filha Daniela, quando era bem pequena. Algumas músicas são bem conhecidas, tradicionais, cantadas por cantores famosos e atuais, mas outras são músicas belíssimas, mas desconhecidas por muitos de nós. Ela só pôde ouvir depois de passado algum tempo, pois vive numa correria constante, e ficou encantada, disse-me que anda com o disco no carro para ouvi-lo sempre que pode.


Esse menino que nasce todo dezembro renova, mesmo, a alma das pessoas, e tudo é motivo para alegrar o coração da gente. Como as canções natalinas que agradaram tanto a Urda e como as crônicas de Natal dela que agradam e emocionam tanto a gente.



A galinha de vidro




Uma das coisas mais bonitas que tinha na casa dos meus avós era um porta-jóias em forma de uma galinha de vidro, numa cor entre o laranja e o ferrugem. Eu era louca por aquela galinha de vidro colorido (até hoje gosto de coisas de vidro colorido – será que tudo começou lá?).
Pois bem, um dia meus avós desfizeram-se de sua casa e foram morar com uma filha, e adivinhem quem ganhou a galinha de vidro colorido? Euzinha mesmo, sem mais nem menos. Com certeza aquela era a peça mais bonita que eu possuía, e durou vários anos nas minhas mãos: era criança quando a recebi; era adolescente quando, um dia, deixei-a espatifar-se no chão. Aquilo foi uma tragédia para mim! Juntei caco por caco e guardei tudo dentro de uma camiseta velha, na esperança de que um dia a Ciência produzisse algum tipo de cola que me permitisse refazer a minha galinha. Ela estava sempre lá, no fundo do armário, a me fazer lembrar de como fora linda e garbosa, nos seus tempos de porta-jóias, plácida e gorda galinha deitada num ninho também de vidro – como esquecê-la?
O tempo passou. Eu já tinha 30 anos quando o meu pai faleceu, tão cedo ainda! Houve toda a tristeza da doença, da morte, do enterro... Todas as famílias já passaram ou passarão por coisas assim. Meu pai morreu em agosto, e logo depois da sua morte minha mãe avisou-me que ele já havia comprado o meu presente de Natal, antes de ficar doente. Queria eu ganhá-lo logo?
- Não, mãe, deixe para o Natal, como era a vontade dele.
Quisemos que aquele Natal fosse diferente, para que não ficássemos todos dentro de casa lembrando, nos emocionando e chorando. Achamos por bem irmos todos acampar, e o fizemos. Fomos para Armação do Itapocoroy, lá onde eu passara os grandes verões da minha adolescência, e eu inaugurava moderna panela elétrica que permitia fazer todo o tipo de comida num camping, e passei a tarde do dia 24 cozinhando, fazendo desde esmerado pernil à Califórnia, até maionese de batatas e tudo o mais que pudesse compor uma boa mesa de Natal. E a noite mágica foi chegando, e nas nuvens iluminadas pelo pôr-do-sol que apareciam pelas beiras da baía de Armação já parecia que havia muitos mistérios escondidos – numa hora o sol se foi, e deixou, ainda por algum tempo, uma fímbria de ouro nas nuvens – e depois ele se foi mesmo, e o horizonte ficou róseo e azul, bem como devem ser as cores dos anjos – e nós espiávamos tudo aquilo enquanto degustávamos o jantar de Natal, e o mistério daquela noite estava mesmo aumentando e nos deixando cheios de ansiedade!
Então escureceu, e era hora de abrirmos os presentes. Os meus sobrinhos ainda eram pequenos, e havia aquela coisa do Papai-Noel ter passado por ali sem que víssemos, e olha lá a boneca nova da Rosa Maria! E olha lá a caixa nova de lápis de cor do Mteka! E olha lá o estojo de maquilagem da Anna Paula! E olha isso, e olha aquilo... quando minha mãe achegou-se a mim com um embrulho de papel de seda, e fez-me lembrar:
- O teu pai tinha te comprado o presente de Natal antes de morrer...
Só aquilo já fazia engolir em seco – cuidadosamente, desembrulhei o papel de seda... e o que havia lá dentro? Nada mais nada menos do que uma galinha de vidro igual àquela da casa da minha avó, que meu pai vira no começo do ano em alguma loja, e que aproveitara para comprar já, pois sabia o quanto eu gostaria dela! Quatro meses depois da sua morte meu pai ressuscitava e me dava aquele porta-jóias de vidro ao qual eu dava tanto valor, era como se ele viesse e me dissesse:
- “Estás vendo? Sei direitinho o teu gosto!”
Que restava a mim fazer, então, do que sentar-me na grama e chorar?



Blumenau, 12 de Novembro de 2003.


Urda Alice Klueger
Somos nossos heróis
Por elaine tavares - jornalista

Maluca por cinema eu vejo tudo que há. Não importa a qualidade. Mesmo nas “bombas” estadunidenses sempre há algo que se possa tirar, desde que tenhamos olhos críticos. Dentro delas há um gênero de que gosto demais. É o dos super-heróis. Encantam-me com suas sempre bondosas tentativas de salvar o mundo. E não é à toa que a indústria cultural os mostre assim. Solitários, um pouco tristes, salvadores individuais. A vida de todos gira em torno da boa vontade de um, o que tem os super-poderes. Talvez por isso me enterneça uma cena do Homem-Aranha em que ele, cansado de salvar o mundo, passa a se comportar como pessoa comum. Só que não consegue. O mundo precisa dele, e ele volta. E o salva. Eis a sempre repetida mensagem do way of life estadunidense. “Fique tranqüilo, alguém virá te salvar. De preferência um dos nossos”.

Cá com meus botões fico a pensar se essa lógica dos super-heróis não é afinal a que temos de combater. Estamos sempre esperando o salvador. Aquele que, num átimo, virá, com suas roupas coloridas e super-força nos salvar. Com os olhos no céu esperamos a saída individual, o gesto do outro, o herói. Esquecemos as propostas coletivas, a necessidade da união, as lutas travadas em comunhão. Ah, essa fortaleza que desconhece seu poder.

Agora aí está, nosso frei Luiz Cappio, outra vez colocado, sozinho, diante da monstruosa idéia da transposição do Rio São Francisco. Ele que é magrinho, que não tem capa, nem super-poderes. Ele que é só um homem, demasiado frágil, demasiado só. E o que ele quer? Bancar o herói? Não! Ele quer que nos recordemos (voltar ao coração). Quer que a gente se lembre dos tempos imemoriais em que, juntos, superávamos nossos medos e as ameaças que se colocavam diante da raça. Desesperadamente quer que nossos ouvidos se abram e possamos voltar a ouvir a canção da comunhão. Juntos, povo, comunidade.

O frei Luiz não quer piedade, nem lágrimas, nem lamúrias. Ele quer ação. Ação nossa, conjunta, real. Frei Luiz não quer lamentos. Quer o povo em pé como se fosse uma copa do mundo, a bramir bandeiras e a se dirigir, cego, para o canteiro de obras da transposição, como cegas vão as gentes para as olimpíadas ou campeonatos. Só que, neste caso, não é um jogo de bola. É o destino de milhares de pessoas que vai se decidir.
Frei Luiz quer que as pessoas saibam que, conforme atestam centenas de relatórios e estudos feitos por técnicos gabaritados, a transposição vai ser um desastre para as pessoas e para a natureza. A Fundação Joaquim Nabuco mostra que, com a obra, vai haver uma redução brutal na geração de energia. O Instituto Miguel Calmon diz que pode faltar água ao rio, pois os afluentes são temporários, e a retirada de água só vai piorar as coisas. O Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco-CEEIVASF, diz que a obra pode provocar uma maior evaporação das águas, que já é elevada no semi-árido. Na verdade, só vai ser bom mesmo para as empreiteiras, que ganharão astronômicas quantias para fazer a obra e para os latifundiários, que poderão irrigar suas terras sem maiores investimentos.
Frei Luiz está jejuando, está pedindo socorro, como se ele mesmo fosse o rio. É porque ele sabe que não existem super-homens, nem homens-aranha, nem madrakes. Como homem, desgraçadamente homem, ele sabe que só há um jeito para parar as máquinas. A força e a união de todas as gentes. Por isso só há dois jeitos de salvar o padre, o rio e a nós mesmo. Ou vamos todos para Sobradinho, na Bahia, ou fazemos ações em nossos estados. Mas ações fortes, firmes, capazes de serem ouvidas pelos governantes! Nada de moções. Ações. Nós, de camisa verde-amarela, com nossas bandeiras, nossos sonhos, nossas esperanças. Para barrar a obra. Afinal, há outras soluções para a questão da água no nordeste. Centenas delas, dadas por técnicos competentes.
Só assim, agindo concretamente, a gente salva o rio, a vida, o frei. Esse homem que se entrega em oblação, porque nós ainda precisamos de heróis. Penso que será muita covardia da gente deixar frei Luiz sozinho. Ele nos quer, juntos. Não quer estar sozinho. Sejamos, então, milhões...
Transcendência-Imanência-Transparência

Leonardo Boff
Teólogo

Não há tradição cultural que não se refira a um Princípio criador ou a uma Energia originária ou simplesmente a Deus. A grande questão é como expressar essa Realidade. Aqui mais que os teólogos que falam sobre Deus contam os que falam com Deus como os místicos e os profetas, cujo testemunho não pode ser negado. Na história do pensamento se delineiam três maneiras de falar com referência a Deus. A primeira fala de transcendência. Deus é tão outro que tudo o que dizemos dele é mais mentira que verdade. O melhor é calar ou apenas sorrir amavelmente como Buda.
A segunda fala de imanência. Deus é experimentado de forma tão intensa que ele se anuncia em cada coisa. Assim vem enraizado dentro do mundo. E é chamado por mil nomes.
A terceira fala de transparência. Busca um caminho intermédio. Deus não pode ser tão transcendente, pois se assim fosse, como saberíamos dele? Ele deve ter alguma relação com o mundo. Anunciar um Deus sem o mundo, faz fatalmente nascer um mundo sem Deus. Também não pode ser tão misturado com as coisas que acaba sendo uma parte deste mundo. Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe. Ele é o suporte do mundo não porção dele.
É aqui que tem sentido a transparência. Ela afirma que a transcendência se dá dentro da imanência sem perder-se nela, caso contrário não seria realmente transcendência. E a imanência carrega dentro de si a transcendência porque comparece sempre como uma realidade aberta a intermináveis referências. Quando isso ocorre a realidade deixa de ser transcendente ou imanente. Ela se faz transparente. Encerra dentro de si a imanência e a transcendência. Tomemos o exemplo da água. A água é água, jorrando da fonte (imanente). Mas é mais que água. Simboliza também a vida e o frescor (transcendente). Ao transformar-se em símbolo de vida e frescor, a água se torna transparente para estas realidades. E o faz por ela mesma e nela mesma.
Essa talvez seja a forma mais sensata de falar sobre Deus e a partir de Deus. Na forma do paradoxo. Por um lado devemos afirmar que todas as nossas palavras são inócuas. De Deus não podemos fazer nenhuma imagem. Por outro lado, não podemos dizer que Deus é o totalmente indeterminado, qualquer coisa vaga, um fundo sem fundo. A realidade de Deus (não sua imagem) é um concreto concretíssimo, o ser em plenitude, portanto uma realidade concreta mas sempre para além de qualquer concreção. É representado pela água mas ele não é água. Identificar água e Deus é cair na idolatria.
Nesse paradoxo a transparência ganha relevância. Ela faz que o inatingível (transcendência) se torne atingível através e dentro de algo concreto (imanência), mas transfigurado-o em símbolo (transparência). É o que o cristianismo afirma de Jesus. Ele é um camponês/artesão mediterrâneo (imanente) mas que viveu de tal modo (transparente) que nos permitiu entrever Deus (transcendente). "Quem vê a mim, vê o Pai". Como? Na forma como se dirigia a Deus, chamando-o de Paizinho querido (Abba), o que supõe que se sentia seu filho. Depois, agindo de um jeito que sua existência era uma pró-existência, vida para os outros, especialmente, os últimos e desprezados. O que disse e fez, foi para nos induzir a ter a mesma atitude que ele teve. Assim descobriremos que somos também filhos e filhas, em comunhão com ele.
Ele se fez transparente para Deus, não rebaixando os que vieram antes dele, mas radicalizando seu dinamismo, tornando-se um ponto referencial. Deus, então, está no mundo mas para além dele.
(Marco Struve - Natal 2007 da APAE)



NATAL PRESENTE

Por Luiz Carlos Amorim (escritor – http://br.geocities.com/prosapoesiaecia )


Os enfeites natalinos já estão pela cidade toda, nas ruas, nas lojas, nas casas, nos jardins, os papais noéis já invadiram a televisão, os jornais, as revistas, o rádio e até a Internet. Está chegando o Natal.
Natal, ah, o Natal... essa época mágica de desembrulhar esperanças, de dar de presente carinho, compreensão e amor, de fortalecer a paz e a fé, de engavetar a saudade... Aquela saudade pequena, que vai ficando maior e que vai doendo um pouquinho mais no Natal. Saudade de almas queridas, como do menino aniversariante, inquilinos vitalícios de nossos corações...
E está aí o Natal, o mesmo Natal que, quando éramos crianças, trazia Papai Noel com os brinquedos, trazia a árvore enfeitada, guloseimas e canções. Canções que falavam do nascimento de um menino encantado que tinha o poder de modificar as nossas vidas, se quiséssemos. Ele representava a renovação, significava que a vida seria melhor, que nós, seres humanos, poderíamos ser melhores.
Então vem a adolescência, a juventude e, adultos, vamos deixando aquela esperança mágica de lado, ocupados em sobreviver.
Mas ainda há tempo de ver um raio de luz nascendo no horizonte de nossas vidas, um fio de esperança apontando o futuro. Ainda há um resto de fé e este é o tempo para multiplicá-lo. Porque o Natal é renascimento, é o encontro da paz, é busca do amor: é a comunhão com Deus. É a ternura de um menino nascendo, é um sentimento maior que nós, homens, ainda podemos exercitar.
Há que querermos um Natal completo e por inteiro, um Natal verdadeiro. E o espírito do Natal, que aproxima os homens, pulsará em todo ser. E brilhará nos olhos de toda criatura, luz a colorir a vida, a semear a paz, sonhada e perseguida. E estará nas mãos de todas as pessoas, carinho a semear ternura. E soará dos lábios de cada um, canção a propagar a fé. Isto é o Natal do coração, presente maior que podemos ter.
Diz-se que o Natal perde a graça, depois que crescemos. Mas temos que resgatar o nosso eu-criança, para não deixarmos de festejar com a alma e o coração o nascimento do menino Deus. E haveremos de dizer uma prece para comemorar-lhe a grande data e pedir-lhe a bênção neste Natal...
(Marco Struve - Natal 2007 da APAE)




A moda Deus



Leonardo Boff

Teologo





Hoje o tema de Deus está em alta. Alguns em nome da ciência pretendem negar sua existência como o biólogo Richard Dawkins com seu livro Deus, um delirio (São Paulo 2007). Outros como o Diretor do Projeto Genoma, Francis Collins com o sugestivo título A linguagem de Deus (São Paulo 2007) apresentam as boas razões da fé em sua existência. E há outros no mercado como os de C.Hitchens e S.Harris.



No meu modo de ver, todas estes questionamentos laboram num equívoco epistemológico de base que é o de quererem plantar Deus e a religião no âmbito da razão. O lugar natural da religião não está na razão, mas na emoção profunda, no sentimento oceânico, naquela esfera onde emergem os valores e as utopias. Bem dizia Blaise Pascal, no começo da modernidade:"é o coração que sente Deus, não a razão"(Pensées frag. 277). Crer em Deus não é pensar Deus mas sentir Deus a partir da totalidade do ser.Rubem Alves em seu Enigma da Religião (1975) diz com acerto:"A intenção da religião não é explicar o mundo. Ela nasce, justamente, do protesto contra este mundo descrito e explicado pela ciência. A religião, ao contrário, é a voz de um consciência que não pode encontrar descanso no mundo tal qual ele é, e que tem como seu projeto transcendê-lo".



O que transcende este mundo em direção a um maior e melhor é a utopia, a fantasia e o desejo. Estas realidades que foram postas de lado pelo saber científico voltaram a ganhar crédito e foram resgatadas pelo pensamento mais radical inclusive de cunho marxista como em Ernst Bloch e Lucien Goldman. O que subjaz a este processo é a consciência de que pertence também ao real o potencial, o virtual, aquilo que ainda não é mas pode ser. Por isso, a utopia não se opõem à realidade. É expressão de sua dimensão potencial latente.



A religião e a fé em Deus vivem desse ideal e desta utopia. Por isso, onde há religião há sempre esperança, projeção de futuro, promessa de salvação e de vida eterna. Elas são inalcançáveis pela simples razão técnico-científica que é uma razão encurtada porque se limita aos dados sempre limitados. Quando se restringe apenas a essa modalidade, se transforma numa razão míope como se nota em Dawkins.



Se o real inclui o potencial, então com mais razão o ser humano, cheio de ilimitadas potencialidades. Ele, na verdade, é um ser utópico. Nunca está pronto, mas sempre em gênese, construindo sua existência a partir de seus ideais, utopias e sonhos. Em nome deles mostrou o melhor de si mesmo.É deste transfundo que podemos recolocar o problema de Deus de forma sensata. A palavra-chave é abertura. O ser humano mostra três aberturas fundamentais: ao mundo transformando-o, ao outro se comunicando, ao Todo, captando seu caráter infinito, quer dizer, sem limites.



Sua condition humaine o faz sentir-se portador de um desejo infinito e de utopias últimas. Seu drama reside no fato de que não encontra no mundo real nenhum objeto que lhe seja adequado. Quer o infinito e só encontra finitos. Surge então uma angústia que nenhum psicanalista pode curar. É daqui que emerge o tema Deus. Deus é o nome, entre tantos, que damos para o obscuro objeto de nosso desejo, aquele sempre maior que está para além de qualquer horizonte. Este caminho pode, quem sabe, nos levar à experiência do cor inquietum de Santo Agostinho:"meu coração inquieto não descansará enquanto não repousar em ti"



A razão que acolhe Deus se faz inteligência que intui para além dos dados e se transforma em sabedoria que impregna a vida de sentido e de sabor.
(nestor jr.)






GATO MALHADO


Quando eu conheci esse Gato que hoje está todo malhado, acho que nem a mais leve geada caíra, ainda, sobre aquela seda tão fascinante dos seus cabelos e da sua barba. Era um rapaz bonito, cheio de vida, que ensinava muitas coisas e tinha muitas histórias para contar, e que vivia com um séquito de alunos atrás dele, sempre atencioso e minucioso nas suas respostas precisas, inteligentes e argutas. Era um prazer andar atrás dele, ficar ouvindo sua sabedoria, saber da sua visão do mundo.
Uns três ou quatro anos depois, assistindo a um programa onde ele era entrevistado na televisão, dei-me conta, pela primeira vez, da leve geada que viera pintalgar sua barba de seda, seus cabelos de príncipe. Naquela altura, eu me apaixonara irremediavelmente por ele, e então tratei de guardar aquelas imagens, gravadas no velho videocassete de duas cabeças, que era o máximo da minha tecnologia de então - e até hoje posso ver a gravação daquele tempo de frêmitos e surpresas, quando voltara a ter as emoções de uma adolescente de quatorze anos, e esse Gato Malhado de hoje já perdera a flexibilidade de junco que tivera na primeira juventude, mas ainda era como um feixe de músculos que reagia aos estímulos num uníssimo impressionante. O tempo o tornara ainda mais fascinante, e aquele pintalgado de prata pelo meio da seda lhe dava um charme novo, e ele fascinava cada vez mais, e o séquito de alunos que o seguia e o admirava aumentara, e cada vez mais as pessoas inteligentes da cidade prestavam atenção ao que ele dizia, e era um prazer andar atrás dele, ficar ouvindo sua sabedoria, saber da sua visão do mundo. E como ele ficara ainda mais bonito, assim com aquela ameaça de nevasca!
Os anos correram tão rápido quanto a areia corre dentro de uma ampulheta, e ontem à noite, assistindo a outro programa de televisão onde ele era entrevistado, dei-me conta de uma coisa impressionante: meu menino está que é um gato malhado, neve para todos os lados nos seus finos cabelos de seda, na sua fascinante barba de seda – meu amor está todo colorido de prata, malhado como um gato – e lembrei da maciez dos tantos gatos malhados que existiram na minha infância, tão macios e lindos e carinhosos, e fiquei pasma, em como não me dera conta, no dia a dia, daquele aperfeiçoamento que acontecia naquele ser humano que é o mais maravilhoso de todos! Também me dei conta de que se foi a aparência de junco e a de feixe de músculos: meu Gato Malhado está todo mais macio, tomado de uma doçura nova, como se a sua sensibilidade tivesse se apurado, e a sua aparência lembra a leveza das nuvens em dia de céu azul, e ele parece fofo e aconchegante como os bebês ficam quando estão bem embrulhadinhos em macia lã. Sei que seu séquito de alunos aumentou, se é que tal é possível, e que cada vez mais as pessoas inteligentes da cidade prestam atenção ao que ele fala, e nunca ele foi tão bonito!
Apesar de o tempo ter escorrido dentro da ampulheta com uma velocidade incrível, sei que para mim também ele passou e me transformou num outro ser humano, tomara que melhor – mas cá por dentro, quando vejo ou penso no meu Gato malhado, sinto-me tão trêmula e encantada como se ainda tivesse quatorze anos.
Meu amor acabou virando o Gato Malhado mais lindo, macio e querido deste mundo – o que a gente faz com um Gato Malhado assim? Há que se amá-lo, sem nenhuma dúvida. Não há outra coisa que se possa fazer com tal doçura!


Blumenau, 24 de novembro de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora







O VERDADEIRO SENTIDO DO NATAL

Por Luiz Carlos Amorim (escritor e editor - Http://br.geocities.com/prosapoesiaecia )

E chegou o final do ano. O Natal está aí, essa festa grandiosa para a humanidade que a própria humanidade transformou num mero evento consumista: a festa da fraternidade e do amor, reduzida a uma época para se gastar mais, para se comprar mais.
Mas ainda é tempo de mudar. Ainda há tempo. Será que vamos nos esquecer, novamente, de que o Natal não é Papai Noel, não é presentes e guloseimas, cores e brilhos, simplesmente? Alguém lembrará do menino que está para nascer e que representa o renascimento da vida para cada um de nós, a esperança de renovação para cada cristão desse mundo de Deus?
O Natal é a oportunidade de reafirmarmos nossa fé em uma força superior que rege o universo, que rege o futuro, não importa o nome que lhe demos. Porque como já dissemos outras vezes, o que será de nós, seres humanos, irmãos gêmeos da natureza, se não tivermos fé e esperança num amanhã que está nas mãos daquele menino que está para nascer?
O que adiantará alguns de nós montarmos nossas árvores de Natal, com luzes e enfeites, podermos comprar presentes para os filhos, pais, irmãos, amigos, se não soubermos o verdadeiro significado do Natal? Precisamos começar a ensinar nossos filhos, que desde muito pequenos esperam ansiosamente o final de ano para que Papai Noel lhes traga brinquedos e doces de presente, que o Natal não é só isso.
Que Natal é muito, muito mais do que isso. Que o Natal existe porque um menino nasceu, há muito tempo atrás, para ensinar-nos que nunca é tarde para recomeçar, que sempre é possível começar de novo, que nunca estaremos sozinhos, apesar de tudo.
Que podemos exercitar sentimentos e emoções simples, próprios de nós, homens, filhos de Deus, como a solidariedade e a fraternidade, a amizade e a compaixão. Que esses sentimentos levam a sentimentos maiores. Não podemos deixar de lembrar, sempre, este significado maior.
Em alguns lares, às vezes por falta de tudo, às vezes por falta do espírito de Natal, nem a árvore enfeitada com frutos coloridos e maduros e com luzes – as estrelas que desceram do céu, símbolo natalino que representa agradecimento pela vinda de nosso Senhor, se faz presente. Principalmente se não há crianças. E uma casa sem Natal é muito triste. E um adulto que não tem mais a capacidade de sonhar, de sorrir e de ter esperança é mais triste ainda. É como se não deixássemos nascer o menino, o filho de Deus, que representa a nossa alma, a magia e o encantamento de viver.
Natal é a celebração da vida, que um menino chamado Cristo traz todo ano, tentando nascer em nossos corações. É a comemoração do aniversário desse menino, que há mais de dois mil anos veio para iluminar nosso caminho. Essa é a grande festa: ela precisa começar dentro do coração de cada um.