segunda-feira, 28 de abril de 2008

VIOLA CAIPIRA

A VIOLA CAIPIRA
Isabel Mir Brandt[1]


O folclore, ciência considerada indispensável para o conhecimento social e psicológico de um povo. e é encontrado na literatura sob a forma de poemas, lendas, contos, provérbios e canções, assim como nos costumes tradicionais como danças, jogos, crendices e superstições, bem como, nas artes e nas mais diversas manifestações da atividade humana. Pode-se dizer que o folclore traduz ao vivo a alma de um povo, pois é específico e genuíno.

Apesar do estudo do folclore ser relativamente recente, pois se originou há cento e cinqüenta e dois anos, o folclore, em si, é a cultura mais antiga da humanidade, mais velha do que a história, pois mesmo antes que a ciência existisse, já os mitos, as lendas e o artesanato eram transmitidos através das gerações desde os remotos tempos pré-históricos, principalmente por via oral. O folclore, apear de não percebermos, acompanha a nossa existência e tem grande influência na nossa maneira de pensar, sentir e agir.

Entre as inúmeras e valiosas manifestações do folclore brasileiro, vamos encontrar a viola caipira que é um instrumento de corda trazido pelo colonizador português, ao som da qual cantava para curtir a saudade da pátria distante. Tem cinco ou seis cordas duplas, metálicas: as duas primas e segundas eram de aço, a terceira era feita de metal amarelo (latão), enquanto o bordão de ré era de aço, o de lá e o mi, de latão. Desde a introdução da viola pelos portugueses durante o processo de colonização dos Brasil, até a difusão pelos mais remotos lugares durante a expansão bandeirante, a viola sempre fez parte da cultura musical brasileira, onde é por excelência um instrumento musical do meio rural.

Um dos maiores estudiosos do folclore brasileiro foi o Professor Alceu Maynard de Araújo, que nos deixou como legado entre tantos outros, o estudo sobre a viola caipira. Trata-se de um dos mais completos registros históricos feitos no Brasil sobre o tema, e foram publicados na Revista Sertaneja de números 4, 5, 6, 7, 8, 9, 13 e 14, entre julho de 1958 a maio de 1959. São desses estudos que as principais características da viola caipira e seus tocadores ficam registrados, dessa forma, os grupos de viola caipira que se inserem dentro dos conceitos do folclore brasileiro devem manter certas características como a utilização do ponteio de cordas soltas, o uso de palheta ou dedeira e chocalhos. Também o violeiro deve vestir-se com chapéu de palha, camisa, calça e botinas.

Araújo nos conta que com o desenvolvimento das cidades e em conseqüência o esvaziamento populacional do campo onde a viola tinha reinado até o fim do século XIX, ocorre uma valorização dos costumes urbanos e uma depreciação de tudo que era oriundo do campo. A viola passa a fazer parte não mais do cancioneiro cotidiano das cidades onde o violão assume o lugar de importância. A viola passa a fazer parte do folclore brasileiro através do folclorista Cornélio Pires que em 1910 organizou um festival de Viola Caipira em São Paulo no Mackenzie College, com o intuito de manter viva essa tradição musical.

Atualmente a viola caipira voltou ao seu lugar de importância pela integração cultural realizada em todo o território brasileiro através dos canais de rádio e televisão e de uma programação cultural voltada a valorização e integração do folclore e costumes do homem do campo nas cidades, impulsionada e patrocinada pela agroindústria. Aos poucos a viola caipira sai das festas familiares nas fazendas e sítios do interior, e seus violeiros aventuram seus cantos e duelos nas praças, feiras e rodeios do imenso Brasil, afirmando a viola caipira e seu cancioneiro como uma das mais fortes e antigas manifestações da cultura brasileira.

Biografia: ALCEU MAYNARD ARAÚJO nasceu no dia 21 de dezembro de 1913, na cidade de Piracicaba, SP. Formou-se professor em 1930 e veio para São Paulo, ingressando no Curso Colegial e Científico do Colégio Ipiranga. Em 1944 bacharelou-se na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, depois do que exerceu diversas funções e pertenceu a diversas entidades. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Sociedade Brasileira de Folclore. Divulgou o Brasil através de filmes de sua autoria, no programa da TV - PRF-3, "Veja o Brasil". Na área do Folclore publicou: Cururu (1948), Danças e ritos populares de Taubaté (1948), Folia de Reis de Cunha (1949), Rondas infantis de Cananéia (1952), Literatura de cordel (1955), Ciclo agrícola, calendário religioso e magias ligadas às plantações (1957), Poranduba paulista (1958), Folclore do mar (1958), Medicina rústica (1961), Novo dicionário brasileiro - verbetes de folclore (1962), Folclore nacional (1964), Pentateuco nordestino (1971), além de muitos ensaios e artigos na imprensa brasileira e revistas especializadas. Falecido em 1974.

Isabel Mir
Ms Educação e Cultura

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