segunda-feira, 23 de junho de 2008

Para Recitar a duas vozes em duas línguas

Estuans interius
Queimando por dentro
ira vehementi
com ira veemente,
in amaritudine
com amargura
loquor mee menti:
digo a mim mesmo:
factus de materia,
feito de matéria,
cinis elementi
cinza dos elementos,
similis sum folio,
sou como uma folha
de quo ludunt venti.
com a qual brincam os ventos.
2.
Cum sit enim proprium
Pois se é próprio
viro sapienti
do homem sábio
supra petram ponere
construir sobre pedra
sedem fundamenti,
as fundações,
stultus ego comparor
eu, tolo, me comparo
fluvio labenti,
ao rio corrente,
sub eodem tramite
que sob o mesmo curso
nunquam permanenti.
nunca permanece.
3.
Feror ego veluti
Sou levado embora
sine nauta navis,
como um navio sem timoneiro,
ut per vias aeris
assim como pelos caminhos do ar
vaga fertur avis;
um pássaro é levado sem rumo;
non me tenent vincula,
correntes não me seguram,
non me tenet clavis,
chave não me segura,
quero mihi similes
procuro pelos meus semelhantes
et adiungor pravis.
e me junto aos perversos.
4.
Mihi cordis gravitas
O peso do coração
res videtur gravis;
me parece um fardo;
iocis est amabilis
a diversão é prazerosa
dulciorque favis;
e mais doce que um favo de mel;
quicquid Venus imperat,
tudo o que Vênus ordena
labor est suavis,
é trabalho suave,
que nunquam in cordibus
e nunca mora
habitat ignavis.
em corações (ignavis?).
5.
Via lata gradior
Percorro caminhos largos
more iuventutis,
à maneira da juventude,
inplicor et vitiis
Estou metido em vícios
immemor virtutis,
e esquecido da virtude,
voluptatis avidus
ávido pela voluptuosidade
magis quam salutis,
mais do que pela saúde,
mortuus in anima
morto na alma,
curam gero cutis.
cuido do meu corpo.

Contribuição de Otto Eduardo Gonçalves, que nos envia este belo poema de um monge musicado por Carl Orff na obra Carmina Burana.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O QUE HÁ DE BELO NA ARTE SURREALISTA DE J. NUNES

Olá Isabel!!!Em anexo obra de J.Nunes.

O artista indaialense J. Nunes está expondo suas telas surrealistas no Grão Espaço, na Casa do Poeta Lindolfo Bell, e podem ser apreciadas em horário comercial de segunda a sexta, onde os timboenses terão a rara oportunidade de apreciar uma exposição de rara beleza.
Os pintores surrealistas exploram através de sua arte o inconsciente e as imagens que não são controladas pela razão. Nos pequenos ou grandes espaços de suas telas, um pincelar nimucioso, associações irreais, bizarras e provocativas. J. Nunes pertence ao grupo seleto dos artistas surrealistas que tem em sua linguagem criativa o rompimento com as noções tradicionais da perspectiva e da proporcionalidade resultando num conjunto de imagens estranhas e fora da realidade.
Mas o que esse talentoso artista, professor da Fundação Indaialense de Cultura, apresenta nessa exposição? Eu diria que não apenas arte, mas sonhos, momentos, instantes congelados de uma beleza que explode em cores vibrantes. A arte surrealista é feita de pequenos e deliciosos detalhes, de uma viagem imaginaria e altamente criativa que captura os olhares dos expectadores, onde num ou outro detalhe, recortes do misterioso inconsciente de cada um de nós se revela.
Não há como desviar o olhar da rosa enquanto é duplamente contemplada, tanto pelo observador fora da tela, quanto pela bela jovem que com gestos enigmáticos a observa dentro da tela sem revelar os sentimentos. Nesse duplo encanto uma mão invisível parece querer tirar a tela de uma moldura que flutua num mar azul, tudo isso apoiado nas rústicas paredes de madeira caiada do Grão Espaço.
É ver para crer que nesse mundo das artes onde fomos invadidos pela chamada arte contemporânea, onde a arte é feita para chocar e não para elevar o espírito que ainda possamos nos deliciar com a mais pura beleza de uma obra de arte em tela.
Isabel Mir
Artista Plástica
Ms Educação e Cultura

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Um critica em bom tempo da exposição “AUTO RETRATO” em comemoração aos 22 anos da BLUAP.

Um grupo de artistas revela na exposição Auto-retrato o que ainda está em segredo.
São auto-retratos de mulheres, rostos, cortes, gestos. Auto-retrato do olhar masculino frontal, penetrante ou enigmático.
Auto-retratos não deles ou delas mas apenas da cor, forma ou simbolismos do que imaginam ser.
Auto-retratos das máscaras belas ou introspectivas que usamos todos os dias. Auto-retratos de momentos vividos de desejos contidos de ilusões e farsas teatrais.
Auto-retrato da força e da fragilidade cristalina escondida sob a cor das máscaras. Todos os olhares se perfilam, se observam, se desdenham, se reconhecem, se amam.
Nenhum auto-retrato é suntuoso, querem apenas parecer simples, coisa de mortais, como se o auto-retrato fosse apenas um momento passado e necessariamente revelado de uns aos outros

Todos fazem um jogo de esconde-esconde. Onde a cor é subtraída aparece a forma. Onde o olhar se revela a intenção se esconde. Onde o simbolismo se expressa se esconde a razão. Onde tudo é escondido o nome é revelado.

Porque não apenas a foto 3x4? Porque o jogo do auto-retrato?

Porque do que vejo alem dos auto-retratos, revelo apenas o que já não é segredo.
Isabel Mir
junho/2008

A ARTE DE FABIANA LOOS

Sou apenas uma observadora diante da arte de Fabiana Loos, onde percebo uma peculiaridade artística interessantíssima: sobre como a sua obra de arte se comporta ante o que cria ou é criada e ainda revelada em seus símbolos, recursos, formas e volumes, que nos desafiam a compreender, discernir, sobre os segredos escondidos nas entrelinhas, nas formas plásticas, no gesto do pincel sobre a tela. As cores absorvem, apreendem, um conhecimento que parece incompreensível para as palavras, mas simples e sincero para o silêncio contemplativo.

É dessa peculiaridade que falo, quando como observadora diante da obra, posso desligar-me dos processos mais profundos da cognição. Não há necessidade de buscas racionais explicativas, apenas o sentir dos significados, que não precisam ser perscrutados nas telas de Fabiana Loos, eles estão lá, claros e fascinantes.

Já ao primeiro olhar, os significados saltam do fundo original em toda sua beleza poetizada pela artista. É dessa peculiaridade que me refiro, a da sinceridade na simbiose entre as linhas em contraponto às formas coloridas. Do gesto fincado nas pinceladas, desenvolvendo um alucinante vocabulário plástico que não pode ser desassociado da sua criadora ao pintar telas de enormes dimensões obtendo uma fascinante combinação abstrata.

Sou apenas uma observadora de Fabiana Loos: Ela, uma artista, um lugar, uma linguagem, uma abstração poética da forma e da cor.

Isabel Mir
Maio/2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

A "Arte Resistência" fazendo escola

Publicado originalmente no blog www.bookofhours.blogspot.com

Receita de bolo para o artista contemporâneo iniciante. Servida em qualquer galeria, museu ou salão do eixo Rio e São Paulo, ou em qualquer outro lugar do mundo.

1. Quanto pior, melhor
Saber desenhar e fotografar é coisa dos caretas puristas. Bom mesmo é aquele desenho infantil feito no guardanapo sujo da rodoviária e a fotografia que você tratou no photoshop pra ficar ruim de propósito. Sem falar no vídeo sem foco e imagem tremida para realmente dar aquele ar de "espontaneidade".

2. Quando eu pintava...
Jovens artistas contemporâneos em início de carreira afirmando a sua "larga" experiência na arte com declarações do tipo "quando eu pintava". Só pra dizer que romperam ou estão se lixando com qualquer tradição na arte e agora são subversivos, revolucionários e experimentais.

3. Meu corpo é a minha tela
Em 2 de 10 trabalhos de arte contemporânea, sempre tem alguém que desenha ou corta o próprio corpo e se fotografa ou se filma fazendo isso.

4. Eu me filmo, eu me filmo, eu me filmo, eu me....
Já vi vídeo de gente arrumando a casa, gente se auto-flagelando, gente descascando cebola, gente andando na praia segurando um livro de gelo se derretendo. Dão bons casos de estudo de comportamento obsessivo-compulsivo para um psiquiatra.

5. A Negação da ausência do vazio
Fazer vídeo, instalação, ou fotografia sobre o nada. Nem Sartre aguentaria.

6. Apropriação da fotografia alheia
Sem querer ou saber fotografar, artistas de apropriam de fotos de outrem e as exibem como evidência de um ato cleptomaníaco.

7. Usar e transformar objetos cotidianos
Warhol fez, Lichstenstein fez, e até o cara que faz esculturas com latinhas de coca-cola na feira de São Cristovão fez. Hoje, constitui um verdadeiro marco de originalidade nas artes, e ainda empregam o termo "ready-made" para descrever a obra.

8. A pegadinha urbana
Plantar uma sombrinha amarela no centro da cidade e filmar a reação dos transeuntes ao avistar um objeto tão "estranho" num espaço tão comum é um exemplo dessa vertente. Até o Faustão acha chato.

9. Plagiar Hélio Oiticica
Usar palavras inventadas por HO como bólide, penetrável e parangolé para descrever o próprio trabalho. Criar instalações como labirintos. Usar a estética da favela sem nunca ter pisado numa.

10. Performance
Fora a maioria das companhias de dança contemporânea, um par de moças que se enfiam em casulos no topo de prédios, e uma outra moça que se fotografa em espaços inusitados vestindo roupas incríveis que ela mesma confecciona, toda e qualquer performance feita por um artista jovem é uma pagação de mico.

11. Usar palavras e textos dentro da obra de arte
Artista quando escreve só fala besteira. E ninguém tem paciência de ficar lendo textos críticos e pretensiosos quando ali esperam ver algo de visual. Uso de textos para explicar a obra.

12. Papo-cabeça
Falar usando termos acadêmicos e ininteligíveis sobre qualquer assunto. Uso excessivo de expressões inócuas tiradas de algum texto filosófico francês como "questionamento do meio", "desconstrução do elemento pictórico" e "poética da metáfora da obra".