terça-feira, 3 de junho de 2008

A "Arte Resistência" fazendo escola

Publicado originalmente no blog www.bookofhours.blogspot.com

Receita de bolo para o artista contemporâneo iniciante. Servida em qualquer galeria, museu ou salão do eixo Rio e São Paulo, ou em qualquer outro lugar do mundo.

1. Quanto pior, melhor
Saber desenhar e fotografar é coisa dos caretas puristas. Bom mesmo é aquele desenho infantil feito no guardanapo sujo da rodoviária e a fotografia que você tratou no photoshop pra ficar ruim de propósito. Sem falar no vídeo sem foco e imagem tremida para realmente dar aquele ar de "espontaneidade".

2. Quando eu pintava...
Jovens artistas contemporâneos em início de carreira afirmando a sua "larga" experiência na arte com declarações do tipo "quando eu pintava". Só pra dizer que romperam ou estão se lixando com qualquer tradição na arte e agora são subversivos, revolucionários e experimentais.

3. Meu corpo é a minha tela
Em 2 de 10 trabalhos de arte contemporânea, sempre tem alguém que desenha ou corta o próprio corpo e se fotografa ou se filma fazendo isso.

4. Eu me filmo, eu me filmo, eu me filmo, eu me....
Já vi vídeo de gente arrumando a casa, gente se auto-flagelando, gente descascando cebola, gente andando na praia segurando um livro de gelo se derretendo. Dão bons casos de estudo de comportamento obsessivo-compulsivo para um psiquiatra.

5. A Negação da ausência do vazio
Fazer vídeo, instalação, ou fotografia sobre o nada. Nem Sartre aguentaria.

6. Apropriação da fotografia alheia
Sem querer ou saber fotografar, artistas de apropriam de fotos de outrem e as exibem como evidência de um ato cleptomaníaco.

7. Usar e transformar objetos cotidianos
Warhol fez, Lichstenstein fez, e até o cara que faz esculturas com latinhas de coca-cola na feira de São Cristovão fez. Hoje, constitui um verdadeiro marco de originalidade nas artes, e ainda empregam o termo "ready-made" para descrever a obra.

8. A pegadinha urbana
Plantar uma sombrinha amarela no centro da cidade e filmar a reação dos transeuntes ao avistar um objeto tão "estranho" num espaço tão comum é um exemplo dessa vertente. Até o Faustão acha chato.

9. Plagiar Hélio Oiticica
Usar palavras inventadas por HO como bólide, penetrável e parangolé para descrever o próprio trabalho. Criar instalações como labirintos. Usar a estética da favela sem nunca ter pisado numa.

10. Performance
Fora a maioria das companhias de dança contemporânea, um par de moças que se enfiam em casulos no topo de prédios, e uma outra moça que se fotografa em espaços inusitados vestindo roupas incríveis que ela mesma confecciona, toda e qualquer performance feita por um artista jovem é uma pagação de mico.

11. Usar palavras e textos dentro da obra de arte
Artista quando escreve só fala besteira. E ninguém tem paciência de ficar lendo textos críticos e pretensiosos quando ali esperam ver algo de visual. Uso de textos para explicar a obra.

12. Papo-cabeça
Falar usando termos acadêmicos e ininteligíveis sobre qualquer assunto. Uso excessivo de expressões inócuas tiradas de algum texto filosófico francês como "questionamento do meio", "desconstrução do elemento pictórico" e "poética da metáfora da obra".

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