(nestor jr.)
GATO MALHADO
Quando eu conheci esse Gato que hoje está todo malhado, acho que nem a mais leve geada caíra, ainda, sobre aquela seda tão fascinante dos seus cabelos e da sua barba. Era um rapaz bonito, cheio de vida, que ensinava muitas coisas e tinha muitas histórias para contar, e que vivia com um séquito de alunos atrás dele, sempre atencioso e minucioso nas suas respostas precisas, inteligentes e argutas. Era um prazer andar atrás dele, ficar ouvindo sua sabedoria, saber da sua visão do mundo.
Uns três ou quatro anos depois, assistindo a um programa onde ele era entrevistado na televisão, dei-me conta, pela primeira vez, da leve geada que viera pintalgar sua barba de seda, seus cabelos de príncipe. Naquela altura, eu me apaixonara irremediavelmente por ele, e então tratei de guardar aquelas imagens, gravadas no velho videocassete de duas cabeças, que era o máximo da minha tecnologia de então - e até hoje posso ver a gravação daquele tempo de frêmitos e surpresas, quando voltara a ter as emoções de uma adolescente de quatorze anos, e esse Gato Malhado de hoje já perdera a flexibilidade de junco que tivera na primeira juventude, mas ainda era como um feixe de músculos que reagia aos estímulos num uníssimo impressionante. O tempo o tornara ainda mais fascinante, e aquele pintalgado de prata pelo meio da seda lhe dava um charme novo, e ele fascinava cada vez mais, e o séquito de alunos que o seguia e o admirava aumentara, e cada vez mais as pessoas inteligentes da cidade prestavam atenção ao que ele dizia, e era um prazer andar atrás dele, ficar ouvindo sua sabedoria, saber da sua visão do mundo. E como ele ficara ainda mais bonito, assim com aquela ameaça de nevasca!
Os anos correram tão rápido quanto a areia corre dentro de uma ampulheta, e ontem à noite, assistindo a outro programa de televisão onde ele era entrevistado, dei-me conta de uma coisa impressionante: meu menino está que é um gato malhado, neve para todos os lados nos seus finos cabelos de seda, na sua fascinante barba de seda – meu amor está todo colorido de prata, malhado como um gato – e lembrei da maciez dos tantos gatos malhados que existiram na minha infância, tão macios e lindos e carinhosos, e fiquei pasma, em como não me dera conta, no dia a dia, daquele aperfeiçoamento que acontecia naquele ser humano que é o mais maravilhoso de todos! Também me dei conta de que se foi a aparência de junco e a de feixe de músculos: meu Gato Malhado está todo mais macio, tomado de uma doçura nova, como se a sua sensibilidade tivesse se apurado, e a sua aparência lembra a leveza das nuvens em dia de céu azul, e ele parece fofo e aconchegante como os bebês ficam quando estão bem embrulhadinhos em macia lã. Sei que seu séquito de alunos aumentou, se é que tal é possível, e que cada vez mais as pessoas inteligentes da cidade prestam atenção ao que ele fala, e nunca ele foi tão bonito!
Apesar de o tempo ter escorrido dentro da ampulheta com uma velocidade incrível, sei que para mim também ele passou e me transformou num outro ser humano, tomara que melhor – mas cá por dentro, quando vejo ou penso no meu Gato malhado, sinto-me tão trêmula e encantada como se ainda tivesse quatorze anos.
Meu amor acabou virando o Gato Malhado mais lindo, macio e querido deste mundo – o que a gente faz com um Gato Malhado assim? Há que se amá-lo, sem nenhuma dúvida. Não há outra coisa que se possa fazer com tal doçura!
Blumenau, 24 de novembro de 2007.
Urda Alice Klueger
Escritora
Quando eu conheci esse Gato que hoje está todo malhado, acho que nem a mais leve geada caíra, ainda, sobre aquela seda tão fascinante dos seus cabelos e da sua barba. Era um rapaz bonito, cheio de vida, que ensinava muitas coisas e tinha muitas histórias para contar, e que vivia com um séquito de alunos atrás dele, sempre atencioso e minucioso nas suas respostas precisas, inteligentes e argutas. Era um prazer andar atrás dele, ficar ouvindo sua sabedoria, saber da sua visão do mundo.
Uns três ou quatro anos depois, assistindo a um programa onde ele era entrevistado na televisão, dei-me conta, pela primeira vez, da leve geada que viera pintalgar sua barba de seda, seus cabelos de príncipe. Naquela altura, eu me apaixonara irremediavelmente por ele, e então tratei de guardar aquelas imagens, gravadas no velho videocassete de duas cabeças, que era o máximo da minha tecnologia de então - e até hoje posso ver a gravação daquele tempo de frêmitos e surpresas, quando voltara a ter as emoções de uma adolescente de quatorze anos, e esse Gato Malhado de hoje já perdera a flexibilidade de junco que tivera na primeira juventude, mas ainda era como um feixe de músculos que reagia aos estímulos num uníssimo impressionante. O tempo o tornara ainda mais fascinante, e aquele pintalgado de prata pelo meio da seda lhe dava um charme novo, e ele fascinava cada vez mais, e o séquito de alunos que o seguia e o admirava aumentara, e cada vez mais as pessoas inteligentes da cidade prestavam atenção ao que ele dizia, e era um prazer andar atrás dele, ficar ouvindo sua sabedoria, saber da sua visão do mundo. E como ele ficara ainda mais bonito, assim com aquela ameaça de nevasca!
Os anos correram tão rápido quanto a areia corre dentro de uma ampulheta, e ontem à noite, assistindo a outro programa de televisão onde ele era entrevistado, dei-me conta de uma coisa impressionante: meu menino está que é um gato malhado, neve para todos os lados nos seus finos cabelos de seda, na sua fascinante barba de seda – meu amor está todo colorido de prata, malhado como um gato – e lembrei da maciez dos tantos gatos malhados que existiram na minha infância, tão macios e lindos e carinhosos, e fiquei pasma, em como não me dera conta, no dia a dia, daquele aperfeiçoamento que acontecia naquele ser humano que é o mais maravilhoso de todos! Também me dei conta de que se foi a aparência de junco e a de feixe de músculos: meu Gato Malhado está todo mais macio, tomado de uma doçura nova, como se a sua sensibilidade tivesse se apurado, e a sua aparência lembra a leveza das nuvens em dia de céu azul, e ele parece fofo e aconchegante como os bebês ficam quando estão bem embrulhadinhos em macia lã. Sei que seu séquito de alunos aumentou, se é que tal é possível, e que cada vez mais as pessoas inteligentes da cidade prestam atenção ao que ele fala, e nunca ele foi tão bonito!
Apesar de o tempo ter escorrido dentro da ampulheta com uma velocidade incrível, sei que para mim também ele passou e me transformou num outro ser humano, tomara que melhor – mas cá por dentro, quando vejo ou penso no meu Gato malhado, sinto-me tão trêmula e encantada como se ainda tivesse quatorze anos.
Meu amor acabou virando o Gato Malhado mais lindo, macio e querido deste mundo – o que a gente faz com um Gato Malhado assim? Há que se amá-lo, sem nenhuma dúvida. Não há outra coisa que se possa fazer com tal doçura!
Blumenau, 24 de novembro de 2007.
Urda Alice Klueger
Escritora
Nenhum comentário:
Postar um comentário