terça-feira, 18 de dezembro de 2007





TODOS OS NATAIS

Por Luiz Carlos Amorim (escritor e editor - Http://br.geocities.com/prosapoesiaecia )


Em um novo dezembro, impossível evitar a lembrança de Natais passados, antigos, felizes, da infância da gente, abençoada infância.
Meus melhores Natais aconteceram quando eu ainda era criança. E depois, quando minhas filhas eram pequenas. Apesar de saber o significado da data, tão importante, acho que para mim, até por causa disso mesmo, crianças fazem falta na mágica noite. Porque elas representam a presença de um menino nascido nessa época e de quem comemoramos o aniversário.
Então espero os netos que, com certeza, reavivarão a chama daqueles Natais saudosos e autênticos. Enquanto isso, passamos a noite de véspera com amigos e parentes que tenham “guris pequenos”, ou os convidamos para passá-la com a gente. Como não ter a presença de uma criança numa noite dessas para mostrar-lhe o presépio e contar a sua história, ver o brilho dos seus olhos refletirem nas bolinhas da árvore natalina, ensinar-lhe a cantar as canções tão nossas conhecidas, vê-la ter medo do Papai Noel de mentirinha e abrir presentes com aquela ansiedade estancada de há tanto tempo?
Saudade de meus Natais de quando eu era criança. Também tinha medo do Velhinho, mas adorava os brinquedos e chocolates que ele trazia. Sabia que naquela noite nascera um Menino eterno, porque minha “Vó Pequeninha” me contara a sua história. Infelizmente, nunca foi montado um presépio em nossa casa, naqueles Natais antigos. Nem montei um, também, para minhas filhas.
Mas mesmo assim, aquelas noites eram mágicas. O encantamento começava muito antes, meses antes, quando o tempo custava a passar, até que chegasse o dia de enfeitar o pinheiro. Aí, sabíamos, a noite estava próxima, muito próxima.
E então era uma azáfama só. Todos ajudavam a preparar a casa, por dentro e por fora – as paredes, o jardim, o quintal, os gramados – sim, porque não morávamos em apartamentos, como hoje, mas em casas -, alguns “ajudavam” no que era possível (e no que não era) na feitura de doces e bolachas natalinas. Era época também de se estrear roupa nova, e lá íamos nós tirar medidas ou experimentar peças simples, de tecidos simples, mas que eram o quanto bastava.
E na véspera da noite especial, que finalmente chegava, todos estavam prontos. Era só esperar as visitas que vinham partilhar a ceia de Natal, simples mas farta, que a mãe preparava com tanta dedicação e carinho, a chegada do Velhinho com os presentes e então todos cantávamos aquelas canções tradicionais e lindas para saudar o nascimento daquele Menino.
Foram Natais felizes. Depois, bem mais tarde, no segundo ou terceiro Natal de minhas filhotas, fiquei triste porque havia “encomendado” um Papai Noel para vir visitá-las e a outras crianças que nos faziam companhia, e ele não apareceu. Ficara bêbado nas primeiras visitas e esquecera a nossa. Fiquei indignado com o homem, pobre mortal que não cumprira o combinado e deixara minhas filhas esperando. Mas não poderia deixá-lo tirar o encanto daquela noite única, e falamos do aniversariante, cantamos as canções que falavam dele e a magia foi restabelecida.
Num outro Natal, pude me sentir quase um Papai Noel. Comprei, aos poucos, bem antes que aquele Natal chegasse, balas, chocolates e pequenos brinquedos, fiz vários pacotes e fui, num sábado antes da tão esperada noite, visitar uma comunidade muito carente. Naquele lugar, de gente muito, muito pobre, sabíamos que as crianças não ganhariam nada de ninguém. Foi uma festa o que aconteceu ao redor do meu fusca, naquele dia.
E dentre tantos Natais felizes, um foi muito triste, para mim e para minha esposa: perdemos nossa primeira filha no final de um outubro, numa primavera linda, quando as primeiras flores de jacatirão começavam a desabrochar. E quando dezembro chegou, a ferida ainda doía muito e nunca uma criança – a nossa criança - fez tanta falta num Natal. Mas entendíamos que não perdemos nossa filha, apenas a deixamos ir ficar ao lado do pai do Menino que nascia mais uma vez. Em todos os outros Natais, por todos esses anos, aquela dor dói um pouquinho mais do que de costume, uma saudade antiga, um sentimento que parece ficar maior, então.
Mas as grandes perdas ensinam a gente a dar valor ao que se tem. Novos Natais felizes voltaram, assim como as crianças, que sempre voltam. Assim como o menino que sempre nasce de novo. Sempre.

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