quinta-feira, 20 de dezembro de 2007





O dia em que o Weihnachtsmann apareceu de verdade!



Quem me contou foi o meu amigo Ivo Hadlich, aqui de Blumenau. Eles eram pequenos, cinco criancinhas em torno de uma mãe e de um pai, a esperarem a chegada do Natal e do Weihnachtsmann, todos dentro daquela emoção que toma conta da gente até hoje, quando o Natal está chegando. Pelas contas que fizemos, deve fazer uns 50 anos, tempo em que não havia loja de 1,99 cheinha de enfeites de Natal, nem neve artificial, e quando ainda eram caríssimas as bolas de vidro que tão facilmente se quebravam e deixavam um monte de finos cacos para entrarem na mão das crianças arteiras.
A mãe do Ivo, então, fazia as coisas da maneira antiga: enfeitava o pinheirinho com os doces-de-Natal mesmo, furados com uma agulha e pendurados na árvore, como frutos, para serem colhidos depois. Ele me contou o trabalhão que dava furar com uma agulha, também, duros grãos de milho, os mais coloridos possíveis, para formarem cordões que enfeitassem a árvore, bem como toda a criançada ajudava a fazer cordões de pérolas, com baguinha-de-Nossa-Senhora, para também embelezarem aquele símbolo maior numa casa, na época do Natal. E ainda se faziam pequenos bonecos de palha-de-milho, e eram colocadas velinhas coloridas por todo o pinheirinho, antes que a noite-de-Natal chegasse. Ficava o máximo o pinheirinho na casa do Ivo: não haveria Weihnachtsmann que não viesse até ali trazer presentes, só para ver coisa assim tão bem feita e linda!
E então chegou a noite-de-Natal de verdade, e quando as crianças entraram na sala, viram que o Weihnachtsmann viera mesmo! Sob a árvore enfeitada e agora com todas as velinhas acesas, estavam os pacotes com os presentes, que hoje ele sabe que eram coisas simples: carrinhozinhos de madeira, bonecas de pano, as coisas modestas que as crianças ganhavam então, naqueles tempos de antes do Consumismo.
E então todos se deram as mãos para cantar o Stille Nacht, a Noite Feliz de todo o mundo ocidental cristão, e o Ivo ainda se lembra muito bem como seu coração de menino muito pequeno batia violentamente, de tanta emoção... quando o incidente ocorreu! Nunca se soube como, mas alguma das velinhas coloridas deve ter caído, e o pinheiro todo se incendiou, e de árvore encantada um momento antes, transformou-se numa tocha que rugia e que queimava todos os enfeites e doces, e, de quebra, já foi incendiando as cortinas da janela e os presentes, e deixando todo o mundo apavorado com o que ocorria.
O pai do Ivo fez o que devia fazer, claro: buscou baldes com água, apagou tudo, salvou a casa. Mandadas para fora como garantia, as cinco crianças, abraçadas, choravam. O Weihnachtsmann viera e se fora, e mesmo assim eles tinham ficado sem Natal! Mas havia a mãe, claro, e as mães sempre salvam tudo. Era impraticável continuar o Natal naquela sala cheia de fuligem, água, e sobras da festa, e ela sabia o que ia nos coraçõezinhos dos seus filhos. Então chamou todos para fora, e o Ivo me jura que aquele foi o Natal mais bonito que ele teve na vida!
Havia uma grande noite de estrelas, lá fora – era como se o mundo todo tivesse se preparado para o Natal, era como se o céu tivesse se vestido de muitas velinhas para esperar a passagem do Weihnachtsmann que ainda deveria andar por ali por perto, visitando outras casas. A mãe do Ivo fazia questão das canções natalinas, e então, todos se deram as mãos de novo e começaram a cantá-las para as estrelas, a começar, claro, pelo Stille Nacht, bem de onde haviam parado. Já não tinham doces nem presentes, mas a noite mágica não foram perdida. E o Ivo jura que foi aquela a única vez em que viu o Weihnachtsmann de verdade: de repente, num caminho aberto entre as estrelas, lá ia ele, tocando um trenó puxado por renas, bem aquele trenó da qual certo refrigerante se apoderou, na década de 1930, quando resolveu inventar o Papai Noel. E o Weihnachsmann abanou, e o grande céu de estrelas ficou cheio de música. O Ivo nunca esqueceu, até hoje. Ele chorou, quando me contou.

Blumenau, 05 de Dezembro de 2003.


Urda Alice Klueger

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