sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O CÉU DE ÉRICO VERÍSSIMO



(Para Jorge Gustavo Barbosa de Oliveira)


O céu de Érico Veríssimo é um céu de passarinhos! É um céu azul tão azul como só o céu dos trópicos pode ser, embora quando a gente chegue lá, debaixo do pedaço de céu que é o céu de Érico Veríssimo, o Trópico de Capricórnio já esteja muito longe, muito mais que mil quilômetros ao Norte, e aquele lugar seja tão alto que parece que, se a gente subir bem no alto da coxilha mais alta e se esticar bem, na ponta dos pés, talvez se possa tocar com a mão aquele azul que só existe em céus dos trópicos.

A maior parte da gente do mundo pensa uma coisa errada: que as regiões tropicais são quentes. Há regiões tropicais quentes, sim, mas há áreas de regiões tropicais onde o frio grassa como grassa lá sob o céu de Érico Veríssimo, e há tanto frio e geada que os homens usam roupas que penso que talvez sejam únicas no mundo, grossos novelos de lã em forma de poncho com barras de franjas, e folgadas calças enfiadas em botas de cano alto e protetores chapéus que devem, uma vez ou outra, acho, protegê-los até de neves

E o céu de Érico Veríssimo é um céu de passarinhos! Tanto frio, e as árvores por cima da gente são verdes como se não houvesse inverno, e têm folhas, e têm bagas, e tem musgos, e devem ter ninhos – pois se o céu é um céu de passarinhos, como é que não vai haver ninhos? Há ninhos, lá, como não os há em nenhum lugar, ninhos brancos e azuis, ninhos de frisos, e de beirados, e de varandas, e de cercas, e de janelas azuis, ninhos azuis e brancos de gatos nas varandas de ladrilho vermelho, pois céu como aquele não há outro, nem ninhos assim também não os há por aí, porque os passarinhos do céu de Érico Veríssimo são passarinhos encantados, e gostam tanto daquele céu e daqueles ninhos que ficam gostando de azul com branco para o resto da vida, e nem poderia ser de outro jeito!

Lá, quando vem a noite, ela não fica escura como nos outros lugares: a noite do céu de Érico Veríssimo também é encantada como quase tudo naquele lugar, e a noite daquele céu é revestida de estrelas enormes, muito próximas, tão próximas que é possível ver-se o passeio dos satélites e dos asteróides por dentre elas, e então os passarinhos daquele céu ficam tão fascinados por terem um céu assim para viver, e ninhos assim também, que se deitam na grama, braços cruzados atrás da nuca, peito aberto para poderem ver com o coração, e espiam as estrelas, e os satélites, e os asteróides, e sabem que de noite é de veludo negro aquele lugar de pendurar estrelas, aquele que de dia fica daquele inexplicável azul que é o azul do céu de Érico Veríssimo, tão azul que talvez só lá mesmo seja assim!

Ah! Como um céu assim só pode ser um céu de passarinhos! Foi sob aquele céu que Érico Veríssimo nasceu e viveu um bom tempo, e ali também nasceram passarinhos tão únicos no universo quanto ele o foi - mas também, sob um céu como aquele, só poderiam nascer, mesmo, passarinhos únicos!

Eu posso dizer que sou uma pessoa que tem tido muitos privilégios na vida: um dia, escondidinha na penumbra de um Vale, bem quando começava a espiar a vida, uma estrela pulou de dentro de um livro e me iluminou com tamanha calidez e brilho que aquela luz ficou para toda a vida, e aquela estrela me fora mandada por Érico Veríssimo – meia vida depois fui, pessoalmente, lá ver aquele céu! Era o céu de Érico Veríssimo e era um céu de passarinhos! Senti tudo tão de perto, com tamanha força – uns e outros me disseram que Érico Veríssimo partiu para sempre, mas também para sempre aquele lá será o céu dele, e sempre será lá um céu de passarinhos e de ninhos brancos e azuis como em nenhum outro céu não há – e há passarinho daquele céu que pulou para dentro do meu peito, como aquela estrela um dia, e não importa o que faça, nem aonde vá, que sempre estará aqui dentro de mim o céu de Érico Veríssimo, que é um céu de Passarinho!

Blumenau, 04 de setembro de 2007.


Urda Alice Klueger
Escritora

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