sexta-feira, 27 de julho de 2007



REGISTROS DA MEMÓRIA


Vento que me trouxe
Pelas águas da enchente
Problemas de asma
E a amargura da perda

Foi, talvez, um desatino
Destino de meu pai
Parar nesta cidade
Onde os dias ficam parados

Mas, ganhamos
Novos aprendizados
O olhar da criança
Ainda é de criança
No corpo adulto

O circo
Que sempre
Veio a esta cidade
Nunca entrei,
O palhaço
Soltou-me um sorriso
E eu caminhei
Com vontade
de estar lá dentro

o tempo foi
e percebi que a escola
me deixou marcas,
sementes de milho
e tampinhas de refrigerante
que tive de me ajoelhar


Saudade
Do pão de milho,
Das guerras de goiabas
E do engendrar de cabanas

Algo está dentro de mim
Desse tempo,
A memória
De correr descalço
Pelas ruas da cidade.



Digo, Indaial,
Ainda é,
Porém,
Já foi,
Agora me preocupo
Com a memória conturbada,
O momento presente,
Apagado na evolução da internet

Surge
Um conflito
Entre as rosas e os gritos,
Gente chorando,
Rindo,
Roubando,
Doando para amenizar a sua consciência.

Os sapatos
Estão cheios de flores,
A vila
Cheia de sombra
Habita o índio,
O professor
Está demasiadamente cansado,
A aula sempre a mesma?
Não!
A violência que é emergente.

Susto na alma,
e a pergunta:
que barco leva a este planeta?
A calma
Continua na tempestade
Da colina,
O colono morreu
Foi enterrado dentro
De uma enorme melancia.

Espelhos refletem
O filme do passado
O menino grande
Era pintado de cinza,
Hoje, se veste de cores
E máscaras de pudim

Pai,
Que água
Trouxe-me aqui?


Pé ante pé,
Caminho no escuro
À procura da luz,
O câncer
Dá voltas dentro dos pulmões,
Melados açucarados
Dentro das dentaduras,
A arcada dentária
Foi censurada.

Pai,
Quanta tristeza
Dentro dos olhos,
Quantas palavras ditas
Por ti

Observo
Os animais transgênicos
Dentro do supermercado
E o homem
Transpassado e marcado
Pelo código de barra,
Sento ao lado
Da minha boneca de pano,
Minha esperança,
Estrela que
Brilha dentro
Do coração






Rodrigo Rafael Giovanella (Kico)




Indaial,11julho de 2007.

Um comentário:

Anônimo disse...

Kico...acho que comungamos de uma verve neo-dadá, que provoca risos nervosos. Tô adorando te ler e te saber um pouco mais...que bom que o tempo passa...