segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Conversa com meu pai


Pois é pai
Faz tempo que a gente não se encontra
Não conversa
Não deixa nossos lábios
Saborear as palavras
As frases, muitas elas feitas, os sentimentos
Até as birras políticas.

Faz tempo que a gente não pára
Para se ver e passear
Pisando, na imensidão do tempo, devagar
As pedras tão conhecidas da calçada
Daquelas belas ruelas desta pequena cidade
Que me ensinaste a amar e sentir.

Pois é pai,
Nem aquela passagem obrigatória no “Tingás”
Saboreando uma bebida entre uma discussão moral
Um desabafo ético
Um cochicho saudável

Pois é pai, faz tempo...
Deixa-me abraçar-te
No meu pensamento de ti
Por a conversa em dia
Falar de quem passa
O olhar de esquina, o assobio
Aquelas esbeltas pernas de mulher bonita.

Deixa-me aconchegar-me
Na saudade das tuas palavras
No teu sorriso
Na tua face austera
Radiosa.

Deixa-me sentir as tuas mãos
Fortes, rudes, meigas e sensíveis
Por tão amares a natureza.

Deixa-me envolver-me
Nos teus braços.
Como raios cintilantes do teu carinho
Da alegria da vida que vi partir
Aqui presente.

Pai,
Deixa-me dar-te uma medalha,
Eu sei que não queres,
Conheço a tua modéstia.
Mas autoriza este teu filho
Fazer-te uma singela homenagem
É apenas uma singela medalha
No metal mais rico - o amor.
Composta por uma flor
O Sol, a Lua e o Mar,
E colocar este testemunho
No teu leito eterno
Junto do meu coração.

Nunca te agradeci, pai
Também nunca gostaste de agradecimentos
Nem queres merecimentos
Mas pai...
Obrigado por estares aqui
Sempre ao meu lado
Pela tua proteção.

Obrigado pai
Pela semente que sou eu
Desculpa-me qualquer rebeldia.
Pois é pai
Hoje voltamos a passear
A ser tudo como antes
A caminhar juntos ao mar
No silêncio
Na musicalidade das ondas
Enroladas na areia da fé e do amor

E enquanto a pena corria suavemente
Na saudade da tua memória
Na certeza da tua presença
Uma lágrima feliz
Apresentou-se
Escrevendo Amo-te pai.

MarcoStruve

3 comentários:

Soprarte disse...

marco...
tão bom ler todas as letras que vem de ti, organizadas em poemas.
que saboroso ver o fanzine nesse formato virtual tão bem elaborado, limpo e... colorido!! rsssss
que fantástico perceber que na nossa região existem talentos como o nestor e o rafael, que honram o blog com suas presenças! estar virtualmente perto deles, juntamente com aqueles que fazem parte do convívio real e frequente, é estimulante!
meu amigo, parabéns pela tua iniciativa e elaboração.
desejo que todos comentem, divulguem e participem.
viva longa para o blog...!
um beijo.

Unknown disse...

Marco, essa homenagem tão linda ao teu querido pai, me emociona e me deixa com grande vontade de abraçar o meu pai. Tuas palavras tão bem colocadas em ordem amorosa e Intima me faz pensar no tempo que conseguimos resgatar sómente através de sentimentos.Um abraço nesse fazedor de emoções.

Nanci.

Anônimo disse...

Lindo, Quinho! Li teu poema hoje, as vésperas dos dias dos pais...e...pôxa, não consigo dizer mais nada...gostaria que sentisses o meu silêncio como uma manifestação que transcende as palavras... s-i-l-ê-n-c-i-o...