quinta-feira, 16 de agosto de 2007

(Mário Holetz)


PÉROLAS NO CRISTAL



Está um dia escuro, cinzento e frio, em Blumenau. Talvez seja uma fina angústia gerada por este dia plúmbeo que me fez lembrar com tanta nitidez de las Islas del Rosário, as Ilhas do Rosário, no Caribe colombiano, pequenas pérolas de luz e de cor mergulhadas na transparência de cristal daquela mar indizível.


Saíramos pela manhã da cidade de Cartagena das Índias, num barco veloz, tipo voadeira, que em menos de meia hora deixou para trás a imensa baía de Cartagena, ornamentada na sua entrada pelos antigos fortes, aqueles mesmos que a gente vê nos filmes de piratas. Tivemos uma primeira parada na Playa Blanca de Cartagena, outro cenário inesquecível.


Imagino que talvez possa haver no mundo outra praia tão linda quanto aquela, mas, mais bonita, acho impossível. É a famosa praia onde o mar tem dezessete cores: tentamos contá-las para confirmar, sem sucesso. As cores do mar vão desde o mais ardente verde, como o das folhas do milho novo, até o intenso roxo, passando por todas as gradações dos lilazes e outras cores intermediárias. A água, de uma transparência total, como só a água do Caribe é, tinha a leveza e a friagem certas de encontro aos nossos corpos; era como se chupássemos balas de hortelã quando entrávamos nela. E como sair daquela água maravilhosa? Ficamos dentro dela todo o tempo em que o barco ficou ali, nadando entre milhões e milhões de peixinhos que nenhum medo tinham de nós. Quem tinha medo de machucá-los era eu, e fazia movimentos lentos, suaves, pensando na segurança deles.


Já perto do meio dia, tornamos a embarcar. O destino eram as Islas do Rosário, que nós não sabíamos o que era.


Por uns quarenta minutos, o barco veloz singrou em direção ao mar alto, e então pontinhos verde-escuros começaram a aparecer no horizonte. Tivemos que chegar mais perto para crer no que víamos.



As Islas do Rosário fazem parte do Parque Nacional dos Corais da Colômbia. Área de preservação ambiental, quem não preservaria aquela maravilha? Vou tentar contar o que são.
Lá na noite dos tempos, pequenos corais foram se fixando no fundo do mar e formando grandes plataformas. Um dia, tais plataformas foram aflorando a superfície da água. Aflorou um pedacinho aqui, outro ali, e começaram a nascer as ilhas. São dezenas, talvez centenas delas, minúsculas ilhas que, na maioria das vezes, tem apenas o tamanho de uma casa de tamanho médio. Umas poucas são cobertas de luxuriante vegetação: muitas são cobertas por casas, uma casa por ilha, casas que ocupam exatamente toda a ilha. Os milionários da Colômbia descobriram aquele paraíso e lá fizeram suas casas de veraneio. Como as ilhas são de pontas de coral, não tem praias; como por lá a variação da maré dá, no máximo, uns cinco centímetros, não há porque não fazer casas ao rés da água, lindas casas coloridas que se espelham no Caribe colorido como que projetadas de um sonho efêmero. A luminosidade do céu, da água e das ilhas nos deixa como que dentro de uma irrealidade, e a gente navega por entre aquele cenário de sonho como se estivesse sonhando.


Nosso barco atracou numa das ilhas maiores, onde fica um famoso aquário do Instituto Oceanográfico de lá, aquário que tem até tubarões. Eu e minha amiga Lúcia não fomos ver o aquário: totalmente encantadas com a natureza ao redor, resolvemos curtir a ilha. Primeiro, demos uma volta ao redor dela: em dois minutos chegávamos, de novo ao lugar de onde tínhamos partido. Ficamos morcegando por ali, debaixo de árvore tão frondosa e copada que parecia abarcar a ilha toda, observando a transparência da água.


No Brasil, sempre que há um cantinho qualquer, a água do mar fica suja, toldada, cria limo. Estávamos em frente a um atracadouro que tinha tudo para ter formado limo e sujeira, e era impressionante ver como a água sob e ao redor dele continuava totalmente transparente, assim como se milhões e milhões de garrafas de água mineral tivessem sido derramadas ali naquele momento. A água de cristal puro aos nossos pés, poucos metros adiante ficava verde como cristal verde, e depois lilás como perfume de violetas que se vêm nos frascos chiques.


Meia hora depois, partimos. As pérolas que eram as Islas del Rosário ficaram lá, mergulhadas naquele mar de cristal líquido, mas tenho-as nos meus olhos como uma irrealidade vivida. Nunca poderei esquecê-las!


Blumenau, 04 de Maio de 1997.


Urda Alice KLueger

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