segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A IMPRUDÊNCIA QUE MATA
(Para Teles, o companheiro de luta,
com carinho e saudades!)

Estou aqui sentada na frente do meu computador pensando em como transmitir em palavras minha indignação e minha dor.
Acabo de voltar do enterro de um amigo muito querido. Um jornalista maravilhoso, o melhor que conheci, ético e de uma responsabilidade social muito grande.
Talvez alguém, ao ler estas linhas, se pergunte por que estou tão indignada. Calma, eu vou explicar.
No ano passado um colega do curso de Ciências Sociais onde estudo, voltava com os filhos pequenos de uma festa. Um motorista embriagado matou os três.
Em agosto deste ano morreu um garoto que estudou comigo no ginásio. Sabe, ele tinha uma moto, e alguém não estava dirigindo com muita prudência, mas foi ele quem morreu. Ele tinha 27 anos.
Na quarta-feira, dia 17 de outubro, estava indo para FURB*, como faço todos os dias, pois estudo lá, e como sempre esperava na faixa de segurança para atravessar a rua, mas ninguém parava. Já estou acostumada a isso, todo dia é a mesma coisa, fico algum tempo parada até que alguém resolva cumprir a lei e parar na faixa para o pedreste. O carro da pista da esquerda parou, o da direita estava quase em cima da faixa quando conseguiu parar, o que vinha atrás dele quase bateu, freou bruscamente, e só para variar vinha uma moto pelo meio dos dois carros, que parou em cima da faixa. Levei o maior susto, sai pensando que deveria escrever sobre o caos terrestre.
Mas olhem a minha surpresa: quando entrei na sala de aula me contaram que um dos colegas tinha sido atropelado na Rua XV de Novembro**, na faixa de segurança. O rapaz estava indo trabalhar, e hoje está no hospital, felizmente ele saiu da UTI no sábado, depois de 10 dias, mas quase perdeu a vida, porque alguém não podia chegar cinco minutos mais tarde.
Hoje de manhã meu celular tocou, e recebi a notícia da morte de um grande companheiro, um cara com 33 anos, cheio de sonhos, de ideais.
Sabe como ele morreu?
Ele voltava de São José do Cerrito*** onde tinha ido comemorar o aniversário do pai, quando alguém ultrapassando em local proibido, sem visibilidade nenhuma, deu de frente com ele. O Teles morreu, os três irmãos que estavam no carro foram para o hospital; a irmã com as duas pernas e a bacia quebradas.
Imaginem vocês a dor de um casal de velhinhos, os pais dele são bem idosos, velando um filho de 33 anos e tendo mais três no hospital? Dá para imaginar?
Não, não dá para imaginar, só quem passa por essa dor sabe, só quem está junto consegue sentir nos olhos o desespero.
É revoltante saber que agora ele estaria aqui, se as pessoas tivessem um pouquinho mais de responsabilidade.
A minha avó sempre conta a estória de um homem que por ter pressa não chegou ao lugar que queria na hora que esperava;
“Um homem estava indo para uma determinada cidade cavalgando. Como ele não conhecia muito bem a região parou para pedir informações.
Perguntou para um senhor se aquela tal cidade ficava muito longe dali.
O senhor respondeu:
- Ainda tá longe, mas se você for devagar chega hoje, agora se for muito rápido só vai chegar amanhã.
Ele não entendeu nada.
Como indo devagar ia chegar hoje e rápido só amanhã?

* FURB – Universidade Regional de Blumenau – Blumenau – SC / Brasil
** Rua do Centro da cidade de Blumenau – SC / Brasil
*** Pequena cidade do sul do Brasil

Meteu laço no cavalo e fez o bichinho correr até não poder mais. O cavalo cansou e como era longe a cidade, ele teve que passar a noite ali mesmo, na beira da estrada.”
Como aconteceu na estória da minha avó acontece na realidade, as pessoas querem chegar mais rápido e acabam muitas vezes não chegando, sem contar que colocam todo mundo que está nas estradas em perigo.
A imprudência mata. E vai continuar matando, enquanto não pararmos para pensar numa forma diferente de dirigir.
Não dá para aceitar que alguém tão jovem tenha morrido pela irresponsabilidade de outra pessoa.
Até quando? - eu fico me perguntando. - Até quando? Quantos mais terão que morrer até que mude a nossa mentalidade?
Eu olho pro lado e não vejo ninguém gritando, se indignando com esta violência no trânsito, com este caos terrestre que estamos vivendo que dia após dia tem ceifado vidas.
O caos terrestre mata muito mais gente do que o caos aéreo já matou, e ninguém, ninguém faz nada.
Vou continuar aqui perguntando:
- Até quando? Heim? Até quando?


Adenilson Teles vive!!!
Hasta la vitoria siempre!!!


Blumenau, 29 de outubro de 2007.

Sandra Teresa Tolfo
Estudante de Ciências Sociais

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