quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Longe da curva do rio

(Poema de Mona Lisa)

me criei aqui no salto do rio
lugar de asfalto
de fuligem de fábrica
de ribeirão poluído de tinta

me criei aqui onde a cidade dos ipês fede um pouco

na saída da cidade na há o cotovelo do rio
mas o agouro está próximo, sem bar ou embarcação
pelas pedras não passa nada
lama e lixo nas beiras, restos humanos que desceram do vale

me criei aqui as margens do asfalto
da tremida e esburacada BR
me criei com o som das sirenes
do corpo de bombeiro tirando mais uma vitima da vala
do trevo
do asfalto

aqui é caminho, pra sair ou para chegar
e se minha escrita não é bonita
como os que fazem rotina no cotovelo do rio
explico que ainda criança, fui vizinha
da whiskeria e do puteiro

Blumenau fede um pouco
o rio é o mesmo
aqui ele é salto
aqui ele arranca as raízes
aqui ele é queda

não leva as flores de cabelos fridas
não tem coração
aqui o rio é o asfalto
é a beira da BR

aqui o rio é o que ninguém quer ver
aqui ele arranca pernas
aqui ele junta moscas

e se minha poesia não serve para livro
e se meu poema é lixo
é porque meu coração nasceu enterrado na pedra do rio,
duro como a margem do asfalto

não sou dos castelinhos
minha vizinha é prostituta

e ali onde a cidade dos ipês não fede
também não há espaço pra minha poesia
ela se derrete em mel de vespas
e cresce em doces palavrões

aqui onde eu moro
a cidade fede
a cidade dos jardins
também fede
aqui é a queda do rio


mona lisa budel
na marginal do rio !

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