segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sete Quedas: 25 anos de luto

Um amigo veio me perguntar: “Você sabia que tá fazendo 25 anos que mataram as Sete Quedas do Iguaçu?” Eu, entre assustado e intrigado, disse que não. Não tinha lido nada a respeito, nem visto na televisão. Definitivamente, não se ama o que não se conhece. Nem se sente saudade. As Sete Quedas do Iguaçu eram um patrimônio natural que foi “afogado” pela Usina de Itaipu. Uma história esquecida, ou vista apenas pelo lado oficial: o progresso determinando a destruição da natureza. É provável que hoje não se investisse tão pesado em algo tão agressivo, o que consola um pouco a perda. Mas o que está feito está feito.

Nossos olhos jamais poderão ver as míticas Sete Quedas do Iguaçu de novo. Nesses tempos de desordem climática, olhar os crimes ambientais cometidos em nome do conforto humano pode ajudar a uma tomada de consciência sobre nossa intervenção na natureza. Itaipu, a pedra que canta, é uma monstruosidade de concreto cercando o rio Paraná, ou o Paranazão, como é conhecido. A usina também virou atração turística. Mas a que preço? Milhares de hectares submersos, diversos ecossistemas alterados, populações desalojadas de suas terras produtivas, e este silêncio atual sobre a morte das Sete Quedas. O que está feito está feito.

Lendo uma reportagem sobre o assunto no site www.sopabrasiguaia.com, Guilherme Dreyer Wojciechowski descreve da seguinte forma a submersão dos saltos: (...) Em 26 de outubro de 1982, há exatos 25 anos, as águas do lago chegavam aos saltos. No dia seguinte, às dez horas da manhã, o último centímetro de rocha era coberto pelo charco barrento, vermelho. (...)

A intervenção gigantesca do homem na natureza fez com que o rio ficasse com profundidades de até cem metros acima do nível natural. A energia elétrica que consumimos diariamente vem desta morte. Talvez por isso, tão submetida ao silêncio. Hoje, as Sete Quedas estão somente na memória de alguns privilegiados. É possível ver vídeos antigos, fotos já quase amareladas e povoar a imaginação com a força descomunal daquelas águas. Agora, um profundo e lento rio. Rio escravo, submetido às ditaduras humanas.

Na época, Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema chamado “Adeus a Sete Quedas”. Longo como a tristeza que o invadia. Drummond finaliza o poema: “Sete quedas por nós passaram, e não soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas, e todas sete somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá”.

Mesmo as palavras certeiras do poeta caíram no esquecimento. São 25 anos de submersão. 25 anos em que os estrondos das Sete Quedas morreram afogados pela visão equivocada dos homens. O que está feito está feito. Cabe às novas gerações olhar para esta morte e evitar que outros crimes ambientais de tal monta venham a acontecer.


Rubens da Cunha

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